Falar do pensamento sistêmico é falar da alma do MIDE / Grounding.
Ir ao cerne do conceito de inteligência lógica-emocional.
Para entender e dominar o pensamento sistêmico e o desenvolvimento da inteligência lógica-emocional de um indivíduo, é fundamental entender bem a raiz dos estados intrapessoais de vida.
Uma reflexão e indagação que venho fazendo nos últimos anos de desenvolvimento do MIDE é por que a inteligência emocional, apesar de amplamente difundida, surtiu pouco efeito na vida das pessoas e organizações, principalmente no meio acadêmico.
Em minhas pesquisas encontrei diversas lacunas, principalmente falta de conexão entre diversos pensamentos.
Pensar a inteligência emocional de forma sistêmica trouxe ao MIDE o inédito e uma amplitude conceitual, o nascimento da inteligência lógica-emocional.
O Pensamento Sistêmico é a disciplina de ver o todo.
No contexto que estamos vivendo neste começo de século, o pensamento sistêmico se faz mais do que necessário, ele é fundamental para amparar a sensação de impotência que os indivíduos sentem pela complexidade da vida cotidiana.
Vivemos caos sistêmicos, em nossa volta podemos ver os colapsos sistêmicos – problemas como aquecimento global, tráfico de droga, falência da educação e saúde, crise na segurança pública e terrorismo, são alguns exemplos que podemos citar.
A essência da disciplina do pensamento sistêmico reside numa mudança de mentalidade:
1. ver inter-relacionamentos, em vez de cadeias lineares de causa-efeito;
2. ver os processos de mudanças, em vez de simples fotos instantâneas.
O PENSAMENTO SISTÊMICO e a LEI DA CAUSA/EFEITO
Observem que no título deste texto coloco causa / efeito e não causa e efeito, aqui surge uma luz do pensamento sistêmico.
O fato é que causa e feito surgem no mesmo exato momento, não existe diferença de tempo, ao se gerar uma causa no mesmo momento se gerou o efeito.
Normalmente um efeito pode levar um determinado tempo para se manifestar, ou seja, fica latente na vida de um individuo criando esta ilusão que a causa está em um tempo diferente do efeito, chamamos isso de “Efeito Delay” ou “Efeito Gota”.
O que acontece em um tempo posterior é a manifestação da causa.
O pensamento sistêmico amplia ainda mais este conceito quando traz o conceito da “Complexidade Dinâmica” x “Complexidade de Detalhes”.
COMPLEXIDADE DINÂMICA x COMPLEXIDADE DE DETALHES
Em muitos países desenvolvidos o pensamento sistêmico está sendo introduzido no fim do ensino fundamental, principalmente no ensino médio, somos uma sociedade analfabeta em pensamento sistêmico e por isso vivemos esse colapso sistêmico que estamos vendo explodir todos os dias em nossas mãos.
Pensando de forma sistêmica temos que entender as origens deste fenômeno e a importância de mudarmos o sistema educacional de nosso país.
“É impossível resolver um problema com a mesma cabeça que estávamos quando criamos o problema” – Einstein
A complexidade dinâmica trouxe uma visão sistêmica a diversos ambientes e sistemas que estavam programados para analisar a complexidade de detalhes, ou seja, a combinação de diversas variáveis.
A raiz da complexidade dinâmica é o fato de uma mesma causa gerar efeitos opostos a curto, médio e longo prazo.
Chamamos a isto de efeito gota; uma causa gera efeitos em 360o., a exemplo da onda que surge ao se jogar uma pedra na água.
Nossa educação e nossa formação está voltada para analisar complexidade de detalhes. Quanto mais variáveis um problema apresenta, mais complexo ele é taxado.
A complexidade dinâmica nos ordena a ir à raiz da raiz da raiz de cada ponto da questão, do contrário, corre-se o risco de tratarmos a consequência e não a causa.
O que, às vezes, acontece na medicina tratando-se a dor ao invés da causa.
Há complexidade dinâmica quando intervenções óbvias produzem consequências não óbvias.
“Na maioria das situações gerenciais, a verdadeira alavancagem consiste em compreender a complexidade dinâmica, e não a complexidade de detalhes.” – Peter Senge
ELEMENTOS BÁSICOS DO PENSAMENTO SISTÊMICO
Existem três elementos básicos que formam um pensamento sistêmico: Feedback de Reforço, Feedback de Equilíbrio e a Defasagem.
Os elementos básicos são as linguagens do pensamento sistêmico. Onde houver um, haverá um dos três elementos básicos.
Todos aspectos de um pensamento sistêmico convergem para um desses elementos básicos.
FEEDBACK DE REFORÇO
Se você está em um feedback de reforço pequenas ações possuem um impacto muito relevante para melhor ou para pior.
O pensar sistêmico permite enxergar o todo e perceber a geração de uma ação ascendente ou descendente.
Peguemos uma personagem fictícia para exemplificar o feedback de reforço.
Ana é uma menina muito especial, viva, esperta, raciocina muito rápido, sua inteligência lógica-emocional é muito estimulada, porém tem muita dificuldade com a comunicação, sua inteligência linguística foi pouco estimulada, agravada pela timidez em excesso.
Em seu ambiente seguro, em casa, Ana revelava seu potencial pleno, mas quando era chamada pelos pais para manifestar em público se retraía e seus pais e parentes sempre comentavam, olha que menina boba, nem sabe falar direito.
Geravam um Feedback de Reforço a Ana, negativo claro, reforçavam sua deficiência.
Não demorou e Ana chegou a fase alfabetização e nas primeiras chamadas a se manifestar Ana travou sua comunicação mais ainda e ouviu as seguintes brincadeiras da professora: “O gato deve ter comido a língua dela!”, “A Ana é muito tímida, tem medo de falar!”, “Deixa de ser boba Ana!” e sem perceberem Ana se fechava ainda mais em seu mundo.
O pânico para falar só aumentava, uma vez que seu inconsciente estava associado a fala com chacotas.
Nesse caso, o Feedback de reforço eliminou autoestima de Ana; quanto mais tentavam empurrá-la, mais atrasavam seu desenvolvimento.
Assim funciona o feedback de reforço: onde pequenas mudanças geram um impacto muito grande. É chamado de efeito Pigmalião.
Nas empresas podemos perceber o Feedback de Reforço associado a afinidades entre chefes e subordinados.
Funcionários com afinidade maior com seu chefe recebem feedback de reforço positivo e se estimulam a melhorar cada dia mais.
O mesmo ocorre com os bajuladores quando o chefe é medíocre e valoriza essa atitude.
Funcionários de personalidade mais forte, focados em resultados costumam manter atenção em suas tarefas e não enxergam muito sentido em investir energia em agradar seus chefes e muitas vezes recebem feedback de reforço negativo e com o tempo vão perdendo todo o estímulo pelo trabalho.
É importante perceber o tipo de feedback de reforço em um sistema, entender se está vivenciando um “círculo vicioso”, onde as coisas começam mal e só pioram, ou se existe um “círculo virtuoso”, existe dentro do processo algo reforçando o crescimento.
Na linguagem popular chamamos de efeito bola de neve.
FEEDBACK DE EQUILÍBRIO
Se você está em um sistema de equilíbrio, vai perceber que a harmonia está na estabilidade.
Assim, se você estiver dentro da meta esperada ficará satisfeito, caso contrário ficará frustrado.
Vou pegar um exemplo, também fictício, de uma empresa que passa por uma dificuldade financeira e decide cortar pessoal, mas mantém a mesma meta de venda e de qualidade.
O feedback de equilíbrio está relacionado a meta estabelecida, ou seja, para se faturar o que se estabeleceu e manter a mesma qualidade é necessário um número de horas de trabalho, sejam realizadas por 100 pessoas ou por 200 pessoas, o que precisa ser cumprido é o número de horas.
O gerente desta empresa não percebeu que mexeu no feedback de equilíbrio ao manter a mesma meta com uma equipe menor, ele sobrecarregou as pessoas, aumentou as horas de consultoria e de horas extras, por fim não reduziu seu custo, desmotivou sua equipe e não cumpriu sua meta.
Posso dizer que em momentos de crise como o que estamos passando no Brasil, vejo essa narrativa acontecer todos os dias.
Os feedbacks de equilíbrio estão em toda parte, estão incorporados em todos os comportamentos orientados para uma meta.
A dificuldade de trabalhar os feedbakcs de equilíbrio é que eles são explícitos e implícitos.
Um empresário percebeu que sua equipe estava muito estafada e decidiu impor por meio de um memorando uma diretriz proibindo que qualquer funcionário trabalhasse depois do expediente e nos fins de semana.
O que ele não percebeu é que a ordem explícita contrariava a implícita, ou seja, sua atitude, ele trabalhava em um ritmo alucinante e sempre se vangloriou disso e fez o mesmo com seus funcionários, já existia um feedback de equilíbrio estabelecido de 70/horas semanais e o memorando não surtiu nenhum efeito, fez piorar a situação, pois com medo de serem mal avaliados os funcionários começaram a levar trabalho para casa e muitos geraram conflitos com a família.
Embora conceitualmente simples, os processos de equilíbrio podem gerar um comportamento surpreendente e problemático, caso não sejam percebidos dentro de um sistema.
DEFASAGEM
Como citei no caso do empresário que tentava diminuir a estafa de sua equipe, os sistemas tem uma mentalidade própria e isso se torna mais evidente nas defasagens, tempo decorrido entre as ações e as consequências.
De acordo com Ray Stata, CEO da Analog Devices, um dos maiores pontos de alavancagem para melhoria do desempenho é a minimização das defasagens do sistemas.
A defasagem também é conhecida como efeito delay ou efeito latente, onde o efeito de uma causa fica latente por um tempo.
Importante ponto do pensamento sistêmico é que causa e efeito surgem no mesmo instante, o tempo entre a causa e manifestação do efeito é o que chamamos de defasagem.
Quanto antes você perceber os efeitos latentes em um sistema, maiores serão as chances de alavanca-lo.
CÍRCULOS DE CAUSALIDADE
A realidade é formada de círculos, mas insistimos em ver linhas retas, aí surgem nossas primeiras limitações como pensadores sistêmicos.
Chamamos de fragmentação do pensamento e uma das causas que imaginamos deriva de nossa linguagem. Os idiomas ocidentais, com sua estrutura sujeito-verbo-objeto tendem a favorecer o pensamento linear.
Se quisermos ver os inter-relacionamentos dos sistemas como um todo, precisamos de uma linguagem com o mesmo conceito, sem ela nossa visão fica fragmentada.
Na perspectiva sistêmica, o individuo é parte do processo de feedback, não ficando à parte dele, trazendo uma profunda mudança na percepção, permitindo-nos ver como estamos continuamente sendo influenciado pela realidade como influenciando-a.
Essa tem sido a base do apelo dos ecologistas em relação ao meio ambiente, o homem insiste em analisar o meio ambiente como algo isolado, quando na verdade somos um elemento do próprio meio ambiente.
Neste ponto o “eu”, iludido pelo egoísmo, se coloca como centro, “Eu sou o autor” ou como vítima.
Segundo uma visão linear a culpa sempre é atribuída ao outro e sugere um único local de responsabilidade.
Quando uma coisa dá errado, vimos como “culpa do outro” ou “nossa culpa”.
Ao dominarmos o pensamento sistêmico, abandonamos a premissa de que existe um indivíduo ou agente individual responsável, todos compartilham a responsabilidade de problemas gerados por um sistema.
11 PRINCÍPIOS DO PESNAMENTO SISTÊMICO
1º. Princípio: Os problemas de hoje vêm das soluções de ontem.
2o. Princípio: Feedback de Compensação / Quanto mais você empurra, mais o sistema empurra de volta;
3o. Princípio: Intervenção de Baixa Alavancagem / O comportamento melhora antes de piorar. Uma solução sempre parece maravilhosa quando cura primeiro os sintomas.
4o. Princípio: A saída mais fácil normalmente nos leva para dentro do problema.
5o. Princípio: A cura pode ser pior do que a doença.
6o. Princípio: Mais rápido significa mais devagar.
7o. Princípio: Causa / Efeito não estão próximos no tempo e no espaço.
8o. Princípio: As ações de maior alavancagem são as menos óbvias.
9o. Princípio: você pode assobiar e chupar cana, mas não ao mesmo tempo.
10o. Princípio: Dividir um elefante ao meio, não produz dois pequenos elefantes.
11o. Princípio: não existem culpados.
De todos os princípios gostaria de chamar atenção ao 11o., como fomos educados a procurar culpados para tudo que acontece em nossas vidas e muitas vezes culpamos a nós mesmos.
Isso é o cerne de um pensamento cartesiano, em um sistema as causas reais não são perceptíveis, pois normalmente estão longe no tempo, no passado.
Pensar sistemicamente é enxergar a vida em 3 dimensões, sempre em metavisão, quando conseguimos nos ver como parte integrante do sistema e como geradores de causas.
É a chave para se livrar de amarras que impedem o desenvolvimento do seu inédito.