O que me credencia a escrever este artigo?
O propósito deste artigo é instruir de como proceder para que nossos filhos não participem das estatísticas da OMS – Organização Mundial de Saúde – sobre jovens em depressão ou ansiedade crônica. O artigo fundamentado em evidências recentes de pesquisas científicas. Algumas delas publicadas em outubro de 2019. Além de pai de uma adolescente e uma criança, sou especialista em aprendizagem socioemocional – com mais de 10.000 horas dedicadas – treinamento de funcionários de empresas, pais, adolescentes e profissionais em geral. Estou focado em contribuir com pais de adolescentes que se veem em situação despreparada quando solicitados pelos filhos na escolha de uma carreira.
Está também no nosso foco profissional os que pensam ou, até mesmo, são forçados a mudar de profissão ou de ofício por exigência do mercado. Também visa as pessoas fora do mercado de trabalho que estão tentando retorno. Após longos anos de atividades empresarial em diversos setores, há 7 anos dedico exclusivamente a estudos, pesquisas e desenvolvimento do método MIDE, um programa de aprendizagem socioemocional (ASE) para jovens e adultos.
O MIDE faz parte de um movimento global nascido na Universidade Yale - Estados Unidos -, 1992, com o intuito de desenvolver competências e habilidades socioemocionais aos jovens em situação vulnerável da cidade de New Haven, cidade onde a Universidade está estabelecida. O conceito ganhou notoriedade e se tornou um movimento global, com centenas de programas já implementados em escolas do mundo todo. O Mercado empresarial só despertou para as habilidades socioemocionais em 2014 quando o WEF - Fórum Econômico Mundial – publicou, alertando, que profissionais sem essas habilidades teriam dificuldades de manter seus empregos ou entrar no mercado de trabalho. Todos os anos o WEF atualiza e publica a relação das 10 competências e 10 habilidades socioemocionais pela ordem de demanda do mercado. (Em nosso Blog você encontra um artigo com relação atualizada, publicada pelo WEF em janeiro de 2020.) Acompanho esse movimento antes mesmo dele fazer parte da agenda do WEF e observei que as competências sofreram significativas alteração de 2014 para 2020, enquanto as habilidades socioemocionais permaneceram praticamente as mesmas. É fenômeno simples de explicar, desde que resolvemos viver em sociedade, somos demandados pelas habilidades socioemocionais. Com o advento da revolução industrial os sistemas educacionais se adequaram em cima de apenas duas das nove inteligências: lógico-matemática e linguística. Nas últimas três décadas, os brasileiros passaram, em média, de 11 a 20 anos dentro de uma escola e universidade, mas formaram sem essas habilidades. Só agora, janeiro de 2020, a BNCC - Base Nacional Comum Curricular - introduziu habilidades socioemocionais nos currículos de todas as escolas públicas e privadas do Brasil.
Habilidades Socioemocionais
É uma ampla gama de habilidades não acadêmicas desenvolvidas em programas de aprendizagem socioemocional (ASE) pelo qual as pessoas:
1. Entendem e gerenciam emoções.
2. Estabelecem e alcançam objetivos positivos.
3. Sentem e mostram empatia pelos outros.
4. Estabelecem e mantêm relacionamentos positivos.
5. Tomam decisões responsáveis.
Estas habilidades se desenvolvem ao longo de nossas vidas e são essenciais para o sucesso na escola, no trabalho, no lar e na comunidade, aumentando a capacidade das pessoas de integrar habilidades, atitudes e comportamentos para lidar de maneira eficaz e ética com as tarefas e os desafios diários.
Este é um aspecto muito importante, as habilidades socioemocionais são desenvolvidas, principalmente, no ambiente familiar reforçando uma crença popular de que a família é a base da sociedade.
O estudo científico do psicólogo norte-americano Howard Gardner, pesquisador e professor da Universidade de Harvard, denominado “As Mentes que Mudam”, reforça que nem mesmo a escola modela a mente de uma pessoa mais do que os próprios pais.
Gardner é precursor do movimento mundial ASE ao publicar sua teoria das Múltiplas Inteligências em 1984 pela Universidade de Harvard.
A teoria das MI foi utilizada em bases curriculares de países como Dinamarca, Noruega, Irlanda, Coréia do Sul, China, Singapura, etc.
Antes de pensar na carreira entenda competências e habilidades
Como orientar a escolha da carreira em águas tão turbulentas como as em que estamos navegando em 2020 e que prometem ficar assim pelo menos até 2030.
O que é uma competência?
Competência é a mobilização de: conhecimentos, habilidades práticas, habilidades cognitivas, habilidades socioemocionais, atitudes e valores, para resolver demandas complexas da vida cotidiana no pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
Veja a relação das competências relacionadas pelo WEF – 2020.
As competências estão ordenadas pela análise de demanda:
Pensamento analítico e inovação;
Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem;
Criatividade, originalidade e iniciativa;
Projetos e programação de tecnologia;
Análise e pensamento crítico;
Resolução de problemas complexos;
Liderança e influência social;
Inteligência emocional;
Raciocínio, resolução de problemas e ideação;
Análise e avaliação de sistemas.
Veja a relação das habilidades socioemocionais relacionadas pelo WEF – 2020.
As habilidades socioemocionais estão ordenadas pela análise de demanda:
1. Criatividade;
2. Originalidade;
3. Iniciativa;
4. Pensamento crítico;
5. Persuasão;
6. Negociação;
7. Atenção aos detalhes;
8. Resiliência;
9. Flexibilidade
10. Resolução de problemas complexos.
Normalmente, um pai ou os próprios jovens olham para essas duas relações e aumentam sua ansiedade que já está nas alturas.
Começar por onde? Priorizar quais? Como conciliar com a educação formal que toma 110% do tempo disponível – 10% estão tirando da juventude - dos adolescentes em testes avaliativos e preparação para o vestibular?
Apresentamos essas duas relações à centenas de jovens do ensino médio de duas escolas renomadas, muitos sabiam o significado das palavras, mas menos de 3% souberam traduzir na prática.
Esse fenômeno é denominado de “Conhecimento inerte – está na memória, mas a pessoa não sabe como usá-lo -”.
Isto não nos surpreendeu, pois este é o ponto crítico dos sistemas educacionais, não só no Brasil, uma vez que os jovens estão recebendo uma sobrecarga de conhecimento inerte e não estão desenvolvendo a competência de criar um contexto para o conteúdo.
Nós acreditamos que o melhor caminho seja focar nas habilidades, veja a definição de competência de forma mais analítica.
Competência é a mobilização de:
Conhecimentos
Nesse quesito acredito que nossos currículos estão bem orientados pela BNCC – Base Nacional Comum Curricular -.
Como as escolas optam por passar o conteúdo estabelecido é o que as diferencia.
Habilidades práticas
As escolas e pais não conseguem focar nessas habilidades devido à sobrecarga de conteúdo e pressão por resultados no vestibular. Essas habilidades dependem muito dos estágios nas empresas ou das empresas júnior e incubadoras das universidades.
O Brasil está travado exatamente nesse ponto.
Os jovens brasileiros estão sendo os mais afetados pela deterioração do mercado de trabalho. No último trimestre de 2019, 41,8% da população de 18 a 24 anos fazia parte do grupo dos subutilizados — ou seja, estavam desempregados, desistiram de procurar emprego ou tinham disponibilidade para trabalhar por mais horas na semana.
A ABRES - Associação Brasileira de Estágio - vêm alertando para esse problema a mais de uma década. De todos os alunos que estão no ensino médio hoje, só 22% irão ingressar em uma Universidade.
A evasão está em 64%, ou seja, apenas 8 alunos que estão no ensino médio irão se graduar. O mercado de estágios só absorve 4 formandos, sendo que 2 seguirão carreiras diferentes daquelas para as quais se formaram. Em vez de irem para a faculdade a fim de se habilitar a bom emprego, os alunos vão, cada vez mais, a procura de emprego para obter diploma universitário. O que isso significa, exatamente? Hoje, a principal razão pela qual os brasileiros valorizam e buscam o ensino superior é "conseguir um bom emprego". O caminho sempre foi assumido na ordem: primeiro, vá para a faculdade e depois faça um bom trabalho. Se houvesse caminho para conseguir um bom emprego primeiro. Emprego que viria com o diploma universitário. Num futuro próximo, um número substancial de estudantes (incluindo muitos dos mais talentosos) trabalhariam diretamente para empregadores que oferecessem um bom trabalho. Além do diploma universitário , o estudante teria, também, o caminho para uma grande carreira. Essa alternância de valores será problema para as universidades e faculdades no que diz respeito à qualidade do ensino superior. O ensino superior não será eliminado do modelo; diplomas e outras credenciais permaneceram valiosos e desejados. O mercado e as empresas, com suas exigências, serão os grandes motivadores. Um número crescente de jovens conseguirão empregos indo diretamente às empresas e ao mercado.
Veja a opinião da Universidade de Harvard:
"Ainda não surgiu uma alternativa clara para as universidades e, embora não exista um caminho claro para interromper o ensino superior, existem pontos problemáticos que aqueles de nós, no campo da educação e além, poderiam estar enfrentando.
Em algum momento, uma alternativa viável provavelmente surgirá e vemos seis razões que justificam a exigência de algo diferente:
Os empregadores precisam de habilidades, não apenas conhecimento ou títulos;
Os estudantes querem empregos, não conhecimento ou títulos;
Os estudantes estão pagando cada vez mais para obter cada vez menos;
Os alunos têm expectativas irreais (compreensivelmente) sobre a faculdade;
Muitas universidades de elite priorizam a pesquisa, geralmente à custa do ensino;
Em vez de aumentar a meritocracia, as universidades reforçam a desigualdade."
Habilidades cognitivas
Esta é a segunda habilidade mais importante, ficando atrás das habilidades socioemocionais.
Mas jovens, e profissionais, que desenvolverem suas habilidades socioemocionais passarão a depender para o resto de suas vidas das habilidades cognitivas.
A realidade no mundo digital de hoje é que precisamos ensinar todas as gerações a aprender, desaprender e reaprender - rapidamente - para que possam transformar o futuro do trabalho, em vez de serem transformadas por ele.
Aparentemente, as universidades são uma boa ideia. Você entra, escolhe um assunto que gosta, aprende com os especialistas e não está preparado para o trabalho e o futuro.
É por isso que tantas pessoas (cerca de 40% nos países ricos) decidem fazer faculdade, mesmo que isso signifique fazer grandes sacrifícios financeiros e pessoais.
No entanto, apenas porque muitas pessoas estão fazendo isso não significa que é necessariamente uma coisa boa a fazer. De fato, embora geralmente exista um custo - em termos de perspectiva de emprego de não ter um diploma universitário, nem sempre há vantagens competitivas claras em ter um diploma, especialmente se quase metade da população tiver um.
Esta habilidade significa sua capacidade de estudar e criar um contexto de aprendizagem, ou a capacidade de aprender – desaprender – aprender novamente.
Ainda, capacidade de pensar sistemicamente, em um mundo cada vez mais complexo o pensamento sistêmico deveria ser introduzido já no ensino médio.
Existe um estudo do psicólogo norte-americano Howard Gardner – Harvard – sobre as cinco mentes que um profissional precisa desenvolver para sobreviver no século XXI:
1. Mente disciplinada: aquela que entendeu que precisa buscar conhecimento todos os dias; uma mente apaixonada pelo aprender.
2. Mente sintetizadora: com o volume de conteúdo dobrando a cada 48 horas, esta mente complementa a primeira.
3. Mente criativa: a mente que buscou o conhecimento (Mente disciplinada), sintetizou a essência (Mente sintetizadora) e cria um novo contexto de aprendizagem; pesquisas apontam que os maiores avanços e descobertas da humanidade saíram de uma tentativa de síntese de um estudo de outra pessoa; quando estamos tentando sintetizar um estudo abrimos nossa mente para novos insights.
4. Mente Ética e Mente Respeitosa: como trabalhamos que respeito é um dos princípios pilares da ética, estas duas mentes poderão ser trabalhadas juntas; podemos traduzir essas mentes como aprender a tomar decisões responsáveis, pensando no bem comum e exercendo a excelência em todos os trabalhos que nos dispormos a fazer.
Habilidades socioemocionais
É o que um programa de aprendizagem socioemocional (ASE) deve proporcionar aos seus alunos.
Habilidades socioemocionais representa uma ampla gama de habilidades não acadêmicas de que os indivíduos precisam para estabelecer metas, gerenciar comportamentos, construir relacionamentos e processar/lembrar informações.
Essas habilidades e competências se desenvolvem ao longo de nossas vidas e são essenciais para o sucesso na escola, no trabalho, no lar e na comunidade.
De um modo geral, esse conjunto de habilidades pode ser organizado em três áreas inter-relacionadas: cognitiva, social e emocional.
É importante ressaltar que essas habilidades e competências se desenvolvem e estão em interação dinâmica com atitudes, crenças e mentalidades, além de caráter e valores, os quais estão fundamentalmente ligados às características dos ambientes.
Há um equívoco comum de que todos precisaremos desenvolver habilidades altamente tecnológicas ou científicas para ter sucesso.
No entanto, embora seja necessário que as pessoas trabalhem com a tecnologia, também estamos vendo necessidades crescente de desenvolver habilidades especializadas para com que elas se interagem.
Atitudes e Valores
Estes dois quesitos de uma competência interagem diretamente com as habilidades socioemocionais.
Não tem como desenvolver plenamente as habilidades socioemocionais sem envolver atitude e principalmente valores.
Atitude e valores é a tradução para as cinco competências essenciais da aprendizagem socioemocional (ASE): autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisões responsável.
Por isto não tem como desassociar “Habilidades Socioemocionais” de “Atitudes e Valores”.
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