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A História da Aprendizagem Socioemocional (ASE)

Atualizado: 24 de mar. de 2020


Um conceito antigo


Como em muitas ideias ocidentais, as raízes da ASE são tão antigas quanto a Grécia.


Quando Platão escreveu a República, no que concerne a educação, propôs um currículo holístico que requer um equilíbrio de treinamento em educação nas áreas de: física, artes, matemática, ciências, caráter e julgamento moral.

Preparar as crianças para serem cidadãs responsáveis, produtivos, atenciosos e engajados é uma busca atemporal que continua sendo o objetivo da educação atualmente.




Origens modernas em New Haven - Universidade de Yale


No final da década de 1960, durante seus primeiros dias no Centro de Estudos da Criança da Faculdade de Medicina de Yale , James Comer começou a pilotar um programa chamado Comer School Development Program .


Foi, como ele escreveu mais tarde em um artigo da Scientific American em 1988 , centrado em sua especulação de que "o contraste entre as experiências de uma criança em casa e as da escola afeta profundamente o desenvolvimento psicossocial da criança e isso, por sua vez, molda o desempenho acadêmico".


O Programa de Desenvolvimento Escolar se concentrou em duas escolas primárias afro-americanas pobres, de baixo desempenho e predominantemente afro-americanas, em New Haven, Connecticut , que tiveram a pior frequência e o menor desempenho acadêmico da cidade.


Com a ajuda do programa, as escolas estabeleceram uma equipe de gerenciamento colaborativo composta por professores, pais, diretor e um profissional de saúde mental.

A equipe tomou decisões sobre questões que vão desde os programas acadêmicos e sociais das escolas até como mudar os procedimentos escolares que pareciam gerar problemas de comportamento.


No início da década de 1980, o desempenho acadêmico das duas escolas excedeu a média nacional. Os problemas de evasão e comportamento haviam diminuído, aumentando, assim, a dinâmica do nascente movimento ASE.

Uma reviravolta no movimento ASE – Teoria das MI - Universidade de Harvard


A teoria das Múltiplas Inteligências começou a ser desenhada em 1979, quando a "Fundação Bernard Van Leercom sede na Holanda, destinou uma verba à Escola de Pós-Graduação de Harvard para responder à seguinte pergunta: “O que se sabe sobre a natureza e a realização do potencial humano?”.

Coube ao Dr. Howard Gardner a coordenação dessa pesquisa.

Entre 1979 e 1983, Gardner desenvolveu a teoria das Múltiplas Inteligências”, reconhecida como a mais inovadora teoria da cognição elaborada no século XX.


Ela promete revolucionar o processo educativo do século XXI. O estudo culminou com a publicação do livro “Estruturas da Mente”, em 1983.


Com efeito, no início da década de noventa, a comunidade acadêmica, em dezenas de países, questionava rigorosamente a qualidade do sistema educacional então vigente e a forma de ensinamento que se praticava nas escolas.


Assim, quando o Dr. Howard propôs a visão pluralista da educação e, consequentemente, da escola, evitando, com isso, o que se chama de visão unidimensional gerada pelas políticas educacionais e fundamentadas em testes de QI e SAT ( Scholastic Aptitude Test-SAT). Os educadores o aplaudiram.


A teoria das MI - Múltiplas inteligências - reconheceu pela primeira vez, formalmente e com base em evidências científicas, que uma pessoa poderia manifestar seu potencial emocional da mesma forma que manifestava o lógico-matemático e linguístico.




O pioneirismo da China


A teoria chegou na China logo após sua divulgação, em 1985, pelas mãos da dra. Jie-Qi-Chen, parceira de Gardner no Projeto Zero, escola de educação infantil da Escola de Psicologia da Cognição de Harvard, dirigida pelo dr. Howard Gardner desde 1967.


Chen, por conta própria, iniciou o processo de divulgação da teoria das MI como base curricular para escolas da China.


Chen foi fundadora da precoce Math Collaborative e professora de desenvolvimento infantil no Erikson Institute, com sede em Chicago – IL, fundado pelo renomado psicanalista Erik Erikson, responsável pelo desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial na Psicologia.

Um dos teóricos da Psicologia do Desenvolvimento.


O trabalho de Chen se concentra em desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento profissional de professores, avaliação de sala de aula, educação matemática cedo, aplicação da teoria das múltiplas inteligências e intervenção em meio escolar. Começou sua carreira como professora em sala de aula.


Nos últimos 20 anos, a teoria das MI teve uma influência muito grande na reforma educacional da China e se tornou muito mais popular do que no Estados Unidos, onde nasceu.


A introdução bem-sucedida da teoria das múltiplas inteligências na China pode ser percebida em todo o território e em todas as séries escolares.

A implantação não foi uma transferência direta, passou por uma forte aculturação e a soma de esforços políticos, culturais e educacionais contribuíram muito para sua difusão.


A cultura chinesa conceitua a inteligência como um atributo da família. Por isso, houve um esforço muito grande para que as escolas envolvessem as famílias no processo de implantação.


Ao envolver as famílias no processo de implementação da teoria, os educadores visaram desenvolver a inteligência intrapessoal e buscar um ambiente propício fora da escola para o desenvolvimento de todas as nove inteligências.


O fato de envolver as famílias foi um dos passo bem-sucedido no processo de implementação da teoria na China. A mesma estratégia deveria ser adotada pelo Brasil.


Inicialmente, pode parecer estranho admitir a inteligência como um traço da família e não do indivíduo. Porém, com o decorrer dos estudos sobre a teoria, ficou claro esse conceito. Entendendo a afirmação em que o ambiente familiar reflete no desenvolvimento das inteligências. Portanto, o trabalho na família reflete direto e integralmente na pessoa modelando a para o desenvolvimento como cidadão.


Nasce o conceito de “Inteligência Emocional” - Universidade de Yale


No verão de 1987, Peter Salovey e John Mayer se uniram em torno da ideia de uma inteligência emocional. São considerados os criadores do conceito.

Salovey estudou emoções e comportamento, e Mayer estudou a ligação entre emoções e pensamento.


Ambos, fazendo uso de seus conhecimentos, articularam a teoria que descreveu novo tipo de inteligência definida como: a capacidade de reconhecer, entender, utilizar e regular emoções, efetivamente, na vida cotidiana.





O conceito de Inteligência Emocional é atribuído aos professores Peter Salovey e John D. (Jack) Mayer em 1990.

Em um artigo crucial, publicado em 1990, eles descreveram essa ideia revolucionária e a chamaram de "inteligência emocional".

Peter Salovey é o vigésimo terceiro e atual presidente da Universidade de Yale.

John Mayer foi bolsista de pós-doutorado na Universidade de Stanford e professor de psicologia na Universidade de New Hampshire. Eles realizaram pesquisas muito significativas na área e publicaram vários artigos importantes.


Mais tarde, David Caruso, PhD, juntou-se a eles para continuar o desenvolvimento do modelo e o desenvolvimento de sua avaliação de inteligência emocional baseada em habilidades: o Teste de Inteligência Emocional de Mayer-Salovey-Caruso (MSCEIT).






Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento


Um relatório para o “Prêmio Nobel de Economia”

Um fato importante contribui para que pesquisadores dessem mais atenção aos processos cognitivos, programas pedagógicos, políticas educacionais, bases curriculares despertando inúmeros países. Assim como a publicação do relatório “Paradigma do desenvolvimento humano - PNUD”, publicado em 1990 por Amartya Kumar Sen, publicado em 1990 por Amartya Kumar Sen, professor de economia e filosofia da Universidade Harvard e Prêmio Nobel de Economia 1998.


Amartya Sen disse: “O desenvolvimento humano, como uma abordagem, lida com o que considero a ideia básica do desenvolvimento: especificamente, o aumento da riqueza da vida humana em vez da riqueza da economia.”


A partir de 1990, o conceito de desenvolvimento humano foi aplicado a um estudo sistemático de temas globais, publicado nos Relatórios Anuais globais de Desenvolvimento Humano, sob os auspícios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.


O índice de desenvolvimento humano (IDH), que o Relatório de Desenvolvimento Humano transformou em uma espécie de carro-chefe, tem sido muito bem-sucedido em servir como uma medida alternativa de desenvolvimento, complementando o PIB.


Baseado em três componentes distintos - indicadores de longevidade, educação e renda per capita -, não se concentra exclusivamente na opulência econômica (como é o PIB). Dentro dos limites desses três componentes, o IDH serviu para ampliar substancialmente a atenção empírica que a avaliação dos processos de desenvolvimento recebe.


O trabalho de Sen e outros forneceu a base conceitual para uma abordagem alternativa e mais ampla do desenvolvimento humano definida como um processo para ampliar as escolhas das pessoas e aprimorar as capacidades humanas (o leque de coisas que as pessoas podem ser e fazer) e as liberdades.


Graças ao trabalho de Sen, o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano -, o qual ajudou na elaboração, não se tornou mais um número bruto como o PIB.


Este processo permite que as pessoas: vivam vida longa e saudável, tenham acesso ao conhecimento de padrão de vida decente participando da vida de sua comunidade e das decisões que afetam suas vidas.


O relatório aponta a educação como oportunidade central para preparar o indivíduo para fazer escolhas e transformar em competências o potencial que trazem consigo.


O relatório defende a criação de um sistema educacional voltado ao desenvolvimento de competências os quais criam três oportunidades essenciais:


1. Acesso aos recursos para levar vida decente;

2. Aquisição de conhecimento;

3. Desfrutar de vida longa e saudável.


O relatório promove a ideia de que:

Não existe vínculo direto entre crescimento econômico e progresso humano.


Independentemente da renda é possível o desenvolvimento de competências e habilidades para:


1. A família não precisa ser rica para respeitar os direitos de cada membro da sociedade;

2. O país não precisa ser rico para tratar homens e mulheres com igualdade;

3. Valiosas tradições sociais e culturais podem ser preservadas para manter igual nível de renda.



Universidade de Yale lança o primeiro programa ASE do mundo


A Universidade de Yale se tornou o centro, de fato, das pesquisas da ASE incluindo pesquisadores ativos que se tornaram figuras-chave no movimento, como Roger P. Weissberg, professor de psicologia em Yale, e Timothy Shriver, graduado e educador de Yale.

Weissberg e Shriver trabalharam juntos entre 1987 e 1992 (junto com educadores locais) para estabelecer o programa “Currículo de Desenvolvimento Emocional”; é considerado o programa pioneiro do movimento global da aprendizagem socioemocional.


Nesse mesmo período, surgiu o Consórcio WT Grant sobre a Promoção Escolar da Competência Social, um projeto financiado pela WT Grant Foundation e co-presidido por Weissberg e Maurice Elias.


Este grupo de especialistas em prevenção escolar e especialistas em desenvolvimento de jovens divulgou uma estrutura para incorporar a aprendizagem socioemocional nas escolas, e o grupo listou as habilidades emocionais necessárias para a competência emocional como “identificar e rotular sentimentos, expressar sentimentos, avaliar a intensidade de sentimentos, gerenciamento de sentimentos, adiamento da gratificação, controle de impulsos e redução do estresse".


Essas pessoas estavam trabalhando em vários projetos que visavam prevenir a violência e o uso de drogas nas escolas e promover escolhas saudáveis, conexões escola-comunidade e comportamento geralmente responsável.


Muitas organizações e universidades continuam a trabalhar para promover a ASE nas escolas do mundo todo. Desde os primeiros dias do movimento, vários conselhos estaduais de educação e vários países aprovaram padrões de aprendizado socioemocional, e os pesquisadores continuam estudando seu impacto no sucesso acadêmico e pessoal das crianças.



2000 - A década da aprendizagem socioemocional no mundo


Como se sabe, a China ficou isolada do mundo por 30 anos (1949-1979) até que, em 1980, a política de portas abertas de Deng Xiaoping restabeleceu contato com o mundo. Houve uma explosão na busca por conhecimento e informações, o povo estava ávido por saber o que acontecia no mundo.


A declaração que marcou o governo de Deng foi: “Não importa se o gato é preto ou amarelo; caçando ratos, o gato é bom”.


Com isso, os chineses deram início a uma busca de ideias e práticas ocidentais como a livre concorrência, a propriedade privada e métodos de ensino como o Montessori; apenas alguns exemplos. Nesse cenário, foi possível a introdução da teoria das MI na China.


O sistema educacional chinês não estava preparado para a demanda gerada a partir da política de portas abertas. Com uma educação completamente voltada para o vestibular; os chineses são famosos pelo foco em testes específicos. Porém, o mercado percebeu que os jovens não estavam sendo preparados para a vida ou para o trabalho.


Houve grande mobilização por parte dos educadores na busca por novas práticas de ensino que atendessem à demanda do crescimento econômico imposto pela política de portas abertas.


O ministério da educação da China respondeu ao apelo dos educadores e, em três diferentes momentos, criou as Diretrizes da Reforma do Sistema Educacional Chinês (1985), as Diretrizes da Reforma e Desenvolvimento Educacional da China (1993) e a Diretriz para a Reforma de Currículo na Educação Compulsória (2001).


Essas diretrizes deveriam atender aos seguintes pré-requisitos: respeitar as características evolutivas das crianças, dar atenção à individualidade e dar ênfase à aprendizagem ativa. Como a teoria das MI atendia a todos os pré-requisitos, o ministério da educação identificou-a como estrutura fundamental para reforma curricular.


Além da China, deram início a revisão de suas bases curriculares: Coréia do Sul, Dinamarca, Inglaterra, Irlanda, Japão, Noruega, Singapura e outras mais.



Aprendizagem Socioemocional no Brasil


A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica - Educação infantil ao ensino médio.

Aquela primeira versão, publicada em dezembro de 2017, orientava a introdução da aprendizagem socioemocional (ASE) nas escolas, publicas e particulares, da educação infantil e ensino fundamental do Brasil.


Em dezembro de 2018, a última versão publicada introduziu a ASE também como diretriz ao ensino médio.


Observem que a BNCC é um documento de caráter normativo, isto é, ele serve como referência para a formulação de currículos dos sistemas e das redes escolares, ele não define o currículo e a metodologia que será utilizada em cada escola.




Aprendizagem Socioemocional no mundo empresarial


No meio empresarial o termo foi introduzido em 2014, quando o WEF - Fórum Econômico Mundial – publicou um relatório demonstrando que os profissionais que estavam no mercado e os jovens que estavam chegando ao mercado não estavam munidos de habilidades socioemocionais para sustentarem ou conseguirem ingressar no mercado.

O fato é que poucos países deram atenção ao relatório.


Em 2018 o WEF publicou outro relatório, denominado de O Futuro dos Empregos”, que analisou o cenário do mercado de trabalho de 2018 a 2022.


Novamente, reforçaram que as empresas profissionais, universidades e governos deveriam observar a existência das dez competências necessárias para lidar com a complexidade da 4ª Revolução Industrial. As novas tecnologias e as dez habilidades socioemocionais devem gerar até 2022 a transformação de 75 milhões de empregos.


Essa transformação significa serem eliminados pela IA – inteligência artificial -, com a migração geográfica transferindo para países com mão de obra, quase, escrava ou mesmo, em parte, por terceirização das empresas.


O relatório trouxe uma visão muito otimista. Paralelamente, ele prevê o surgimento de 135 milhões de empregos gerados pelas novas tecnologias.


Há um equívoco de que todos precisaremos desenvolver habilidades altamente tecnológicas ou científicas para ter sucesso.

No entanto, embora seja necessário que as pessoas trabalhem com a tecnologia, também se vê necessidade, crescente, de desenvolver habilidades especializadas para que haja interação.


Isso inclui criatividade, colaboração e dinâmica interpessoal. Além das habilidades socioemocionais relacionadas também funções especializadas em vendas, recursos humanos, assistência e educação.


Um novo relatório do Fórum Econômico Mundial concluiu que muitos crescimentos de empregos virão de sete áreas profissionais: assistência, engenharia, computação em nuvem, marketing de vendas e conteúdo, dados e IA, empregos verdes, cultura e gerentes de projetos especializados.


As maiores ofertas de empregos virão da tecnologia e de áreas que demandem habilidades socioemocionais.


Segundo o Fórum Econômico Mundial de 2020 os conteúdos de currículos que governos, escolas e empresas devem construir para próxima década são:


1. 4ª Revolução Industrial;

2. Aprendizagem socioemocional (ASE);

3. Inovação;

4. Participação cívica;

5. Valores;

6. Tecnologia da informação.



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